domingo, 31 de maio de 2020

Uma linha não tão verde...


De fato, o que a Prefeitura de São José dos Campos anunciou como um projeto de Linha Verde, é uma linha verde hoje. São cerca de 1,5 milhões de metros quadrados de um tapete de vegetação que corta a cidade de Sul à Leste, sobre o qual repousam os “bonecos” metálicos que sustentam os cabos de transmissão de energia no município. O chamado “linhão da eletropaulo” (atualmente CTEEP), por um lado, representa uma barreira ao desenho da cidade: separa bairros, constrange a infraestrutura, dificulta os elos urbanos. Por outro, a linha funciona como uma área de infiltração de água, amortecimento de cheias, e até mesmo, para alguns, como alternativa paisagística preferível à selva de pedra: um tapete verde, como pode facilmente ser observado na imagem de satélites do Google (Figura 1).

Figura 1. Imagem de trecho do Linhão CTEEP em São José dos Campos. Fonte: Google (2019)

O projeto recentemente lançado pela Prefeitura, chamado de Linha Verde, pretende, ao contrário do que possa parecer, tornar a linha muito menos “verde” do que é atualmente. A área “sustentável” anunciada no projeto terá meros 75.000 metros quadrados, ou cerca de 5% da área hoje verde do linhão. Há outra parcela pequena, que seria ocupada por eixos de transporte (o TRM e ciclovias). Todo o resto, que corresponde a cerca de 60% da área, ou seja, mais de 1 milhão de metros quadrados, será ocupado por edificações de todo o tipo e sob critérios muito distantes da “sustentabilidade”: a maior parte terá coeficientes máximos de aproveitamento, alguns terão restrições mínimas de ocupação e alguns poucos estarão sujeitos a critérios um pouco mais restritivos. Ou seja, de “verde”, pode-se presumir parcela menor que 10% de toda a linha, que hoje é um tapete verde de fato.

A ideia do aproveitamento do linhão, com o aterramento dos cabos elétricos e uso como eixo de Transporte Rápido de Massa, não é nova. E pode ser muito interessante. Mais ainda com acoplamento a um eixo cicloviário extenso, ligando partes importantes da cidade, hoje separadas, sem um traçado contínuo. No entanto, o custeio da obra é algo que precisa ser esclarecido, afinal, da forma como apresentado, trata-se de um grande projeto para empreendimentos imobiliários de todo perfil. Certamente boa parte desta conta deveria ser paga pelos empreendedores, que ganharão uma grande vitrine de investimentos, numa esperada parceria público-privada. E, embora haja elementos interessantes para a mobilidade urbana, esta linha está longe de ser “verde” como pintam!