De fato, o que a Prefeitura de São José dos Campos anunciou como um projeto de
Linha Verde, é uma linha verde hoje. São cerca de 1,5 milhões de metros
quadrados de um tapete de vegetação que corta a cidade de Sul à Leste, sobre o
qual repousam os “bonecos” metálicos que sustentam os cabos de transmissão de
energia no município. O chamado “linhão da eletropaulo” (atualmente CTEEP), por
um lado, representa uma barreira ao desenho da cidade: separa bairros,
constrange a infraestrutura, dificulta os elos urbanos. Por outro, a linha funciona
como uma área de infiltração de água, amortecimento de cheias, e até mesmo,
para alguns, como alternativa paisagística preferível à selva de pedra: um
tapete verde, como pode facilmente ser observado na imagem de satélites do
Google (Figura 1).
Figura 1. Imagem de
trecho do Linhão CTEEP em São José dos Campos. Fonte: Google (2019)
O projeto recentemente lançado
pela Prefeitura, chamado de Linha Verde, pretende, ao contrário do que possa
parecer, tornar a linha muito menos “verde” do que é atualmente. A área
“sustentável” anunciada no projeto terá meros 75.000 metros quadrados, ou cerca
de 5% da área hoje verde do linhão. Há outra parcela pequena, que seria ocupada
por eixos de transporte (o TRM e ciclovias). Todo o resto, que corresponde a
cerca de 60% da área, ou seja, mais de 1 milhão de metros quadrados, será
ocupado por edificações de todo o tipo e sob critérios muito distantes da
“sustentabilidade”: a maior parte terá coeficientes máximos de aproveitamento,
alguns terão restrições mínimas de ocupação e alguns poucos estarão sujeitos a
critérios um pouco mais restritivos. Ou seja, de “verde”, pode-se presumir
parcela menor que 10% de toda a linha, que hoje é um tapete verde de fato.
A ideia do aproveitamento do
linhão, com o aterramento dos cabos elétricos e uso como eixo de Transporte
Rápido de Massa, não é nova. E pode ser muito interessante. Mais ainda com
acoplamento a um eixo cicloviário extenso, ligando partes importantes da
cidade, hoje separadas, sem um traçado contínuo. No entanto, o custeio da obra
é algo que precisa ser esclarecido, afinal, da forma como apresentado, trata-se
de um grande projeto para empreendimentos imobiliários de todo perfil.
Certamente boa parte desta conta deveria ser paga pelos empreendedores, que
ganharão uma grande vitrine de investimentos, numa esperada parceria
público-privada. E, embora haja elementos interessantes para a mobilidade
urbana, esta linha está longe de ser “verde” como pintam!
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