A criação de um Parque Natural Municipal, em diversas situações, seria motivo de grande alegria para a população. Este seria o espírito esperado de um anúncio como o da criação do Parque Natural Municipal do Cerrado em São José dos Campos/SP. No entanto, a iniciativa gera muito mais preocupação do que alegria.
Em primeiro lugar, porque tal parque está sendo anunciado
sem que esteja concluído o Plano Municipal de Mata Atlântica e Cerrado (PMMAC),
o qual deveria estabelecer diretrizes para a conservação destes ambientes no
município. Inclusive qual seria o regramento para estabelecer zonas de
amortecimento e corredores a partir dos remanescentes de Mata Atlântica e
Cerrado. O PMMAC teve sua elaboração iniciada no Conselho Municipal de Meio
Ambiente (COMAM) em 2019, mas até o momento a Prefeitura não apresentou a
versão final, para debate público.
Voltando alguns passos na história recente, esta mesma
gestão SUPRIMIU, por ocasião da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo
(vulgo Lei do Zoneamento, promulgada em 2019), 1.036 hectares de Zonas de
Proteção Ambiental na mesma região. Esta área garantia minimamente a proteção
de mais de 500 hectares em remanescentes de Cerrado (incluindo os famosos
“campos”), além de estar toda inserida sobre área de recarga de aquíferos, cuja
preservação é fundamental para a garantia da segurança hídrica na cidade. Sim,
estes são os números! Suprimiu 1.036 hectares de proteção e agora propõe
proteger um pequeno recorte de 30 hectares.
Mas isso não é tudo. Um dos principais fatores de proteção
para a área a ser criada é o regramento dos usos em seu entorno, a chamada Zona
de Amortecimento. Esta é tão importante quanto o parque, ainda mais quando se
trata de uma área de proteção tão pequena para uma mostra tão preciosa do
Cerrado joseense. A proposta apenas aponta algumas possíveis diretrizes,
postergando a definição da zona de amortecimento. Dado o grau de ocupação atual
na região e as pressões imobiliárias, há grande risco de que se degrade o
ambiente de entorno antes de qualquer revisão do Plano Diretor (como propõe o
texto) ou de definição posterior da Zona de Amortecimento. O ideal seria estabelecer
a Zona de Amortecimento e seu regramento junto com a criação do Parque.
Neste contexto, algumas perguntas pairam sem respostas: a) Qual
é a área total prioritária para conservação do Cerrado na região sul da cidade?
Por que só destinam 30 hectares para o Parque? b) Quais são as áreas de conexão
do Parque do Cerrado com os remanescentes de Cerrado na região Sul? c) Como
estes corredores e os outros remanescentes serão protegidos? O que garante esta
proteção, desde já?
O mundo caminha para mudanças transformadoras e a
resiliência das cidades dependerá em grande monta, da capacidade de conservar
ambientes naturais e ampliar as áreas sob proteção e restauração. Precisamos de
um parque com dimensões muito maiores que os parcos 30 hectares destinados pelo
município. Uma área cuja proteção inclua os corredores ecológicos e a ligação
com diversos outros remanescentes de Cerrado ainda existentes. Afinal somos São
José dos Campos de Cerrado. Ou
não...?
Ah! São José pobre cidade rica. Ciomo sempre a prefeitura fazendo tudo às avessas.
ResponderExcluir