O Brasil atinge o terceiro mês sob a COVID-19 nas primeiras
posições do mundo em termos de casos e óbitos. E, ao que tudo indica,
continuamos em curva ascendente da doença, com consequências ainda mais trágicas
para as próximas semanas. Gostaria de salientar dois aspectos importantes a
analisar a partir dos números consolidados da doença ao longo do tempo. O
primeiro diz respeito à propagação da doença seguindo um padrão característico:
a existência de um patamar inicial, no qual a disseminação da doença é mais
rápida onde a desigualdade é menor, e um segundo momento, no qual países mais
desiguais demonstram mais dificuldade de controle da doença, com escalada de
casos. Esta hipótese, se comprovada, explicaria um fenômeno vivido no Brasil,
especialmente nas capitais menos conectadas ao tráfego internacional (vetor
inicial da disseminação da doença) e cidades de médio e grande porte no
interior do país. A doença chega pelas classes mais abastadas e quanto maior a
desigualdade, mais tempo ela leva para atingir índices de transmissão
comunitária efetivos nos extratos menos favorecidos da população. Este lapso de
tempo é crucial na percepção de risco e na adoção e manutenção de medidas de
contenção da doença. Voltaremos a este ponto mais adiante.
O outro aspecto é o da comunicação e informação oficial, de
Estado, sobre a doença e as formas de contenção. Sabemos que o país opera um
regime federativo, com municípios, estados e união com autonomias subjacentes,
e eleições diretas para cada nível, de maneira intercalada. Isso implica em
divisões e alinhamentos políticos diversos, conforme a conjuntura, em cada
instância administrativa. Um cenário de polarização política extrema, como o
que vivemos, pode ampliar os impactos de uma pandemia, a depender da forma como
cada ente político se comporta neste sistema federativo.
https://terapiapolitica.com.br/2020/06/17/politica-de-sinais-contrarios-o-problema-da-informacao-erratica-em-tempos-de-pandemia/
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