Vivo em São José dos Campos desde 1996. E naquela época já era bom viver aqui! E acredito que já teria sido bom bem antes disso! A cidade, estabelecida como vila em 1767 a partir de um aldeamento indígena que começara na região do Rio Comprido, teve suas características “modernas” adquiridas ainda no período sanitarista, com suas primeiras fábricas, e posteriormente com a instalação do CTA e indústrias de maior porte.
Desde então, se diferenciou das demais cidades da região e
passou a atrair cada vez mais gente, de todas as origens. Podemos dizer que,
desde então, é “bom viver em São José dos Campos”. No entanto, esta frase,
utilizada por um grupo político que se enraizou em São José dos Campos, pode
sofrer uma mudança no futuro próximo, a continuar a sanha por uma “modernidade
tecnológica” que apenas mimetiza o crescimento imobiliário já visto em outras
metrópoles brasileiras. Não será apenas saudosismo se ouvirmos em breve “bom
mesmo foi viver em SJCampos”.
A começar pelos “campos”, que já quase não existem mais. A vegetação de cerrado
baixo, pequenos arbustos e gramíneas, que dá nome à cidade, vem sendo
paulatinamente expulsa, degradada, extinta do mapa, hoje relegada a pequenas porções
em áreas federais (DCTA) e privadas, restando poucas áreas públicas dos campos
de cerrado. A julgar pelas ações do executivo municipal, respaldadas por uma
leva de vereadores que advogam mais por causas próprias do que coletivas, até estas
estão sob risco. Os diversos rios que nascem e cruzam o município são tolhidos,
em meio urbano, lacrados, enterrados ou canalizados, tendo parte de suas
nascentes suprimidas por novos prédios, ícones desse modelo tacanho de “desenvolvimento”.
Alguns veios d’água insistem em correr nas encostas mais baixas da Vila Ema, ou
nos recortes de traçado questionável da via Cambuí. Em outros trechos, esses
rios afrontam a disciplina de uma engenharia anacrônica e se rebelam, inundando
vias, casas e tudo o mais que se colocam sobre seu domínio. Ah sim, são os
domínios de cursos d’água, que, embora inscritos na legislação municipal, não
estão propriamente delimitados nem regulamentados. Especialmente em regiões
onde o valor do metro quadrado atiça mais a cobiça e, consequentemente, o lobby
do setor imobiliário, não importando se o futuro climático cobrará seu preço:
vale o ganho privado presente, o prejuízo futuro fica para a sociedade! Mas São
José dos Campos é amiga das árvores! Um reconhecimento do básico: ter um plano
diretor, um plano de arborização e outras coisas inscritas na lei, independente
de segui-los. Não importa que o município não avance nas metas do plano e
tampouco que suprima árvores na mesma velocidade com que planta! Não importa se
o governo não se importa com a saúde das árvores! Ah, restam os parques! Bom
mesmo é viver os parques de São José dos Campos! Sim, são belos em diversos
sentidos, especialmente aqueles mais consolidados: Parque da Cidade, Santos
Dumont, Vicentina Aranha, Alberto Simões, Ribeirão Vermelho e o Parque Natural
Augusto Ruschi. Guardam um patrimônio histórico, ambiental e sociocultural de
valor inestimável.
Aliás, já estão estimando e precificando-os em um projeto de concessão que melhor se caracteriza como de privatização dos espaços públicos, a despeito de que a maior parcela da sociedade que hoje se beneficia deles, não poderá pagar pelas utilidades num regime privado. Cada vez mais privado em São José dos Campos. Unidades de saúde já passam por isso e agora é a vez das escolas. Não nos surpreendamos se a guarda civil um dia for privatizada. Aliás, a julgar pela quantidade de condomínios fechados (e querem mais!) com segurança privada, já estamos bem perto deste limiar! No limite, privatizaremos o prefeito! Ah, bom mesmo ainda é viver em São José dos Campos! Até quando?
Quiçá um dia teremos uma gestão que se preocupa de fato com a qualidade de vida de todos os cidadãos, que amplie as áreas verdes, restaure os campos de cerrado, renaturalize seus rios, expanda a arborização urbana para os bairros carentes de árvores, reduza a poluição atmosférica e o ruído na cidade, aumente a segurança em todos os níveis (incluindo a segurança das mulheres e a segurança no trânsito), eleve os níveis de saúde e educação a patamares compatíveis com as melhores cidades do mundo, e, não menos importante, dialogue e construa visões de futuro junto com a sociedade, para um planejamento inclusivo e efetivo, que comporte todas as preocupações vividas e as soluções que provenham de fora do balcão de negócios a que foi relegada a tomada de decisão na gestão atual.
Parabéns São José dos Campos, pelos seus 258 anos! Dado seu passado e suas conquistas históricas, a cidade, e a cidadania joseense merecem mais!!!
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